Aonde vamos chegar? - Postado por Jairo Len

Uma notícia que eu li hoje, na Folha.com, me chamou atenção: "a procura por implantes de silicone nas panturrilhas cresceu. No país vice-campeão de cirurgias plásticas (atrás apenas dos EUA), próteses de batatas da perna ocupam o quarto lugar nas preferências delas e deles". No ano passado, mais de 2 mil próteses de panturrilha foram colocadas. E não são pessoas com atrofias, doenças ou problemas de saúde. Na maioria são jovens, cerca de 20 a 30 anos de idade.
Sou grande defensor do livre-arbítrio, mesmo físico - ao mesmo tempo que isso me dá direito de achar ridículo o uso de alargadores, tatuagens exageradas e em áreas como rosto, olhos e pescoço, piercings fora dos lugares habituais e demais cicatrizes indeléveis que alguém possa se fazer. Mas cada um sabe de si e tem direito de fazer o que quiser.
Me espanta é que mais de duas mil vezes no ano passado cirurgiões plásticos (médicos, com 4 anos de residência médica e muitos deles com título de especialista) convenceram pacientes ou foram convencidos a fazer este tipo de procedimento (colocar 180 ml de silicone na panturrilha de alguém bonito e saudável). Fora outros exageros que todos sabemos que existem.
Na Clínica, com certa frequência mães e pais vem conversar comigo sobre sua filha, adolescente (15 anos, na média), quer fazer alguns retoques estéticos (como lipoaspiração, próteses mamárias e até mini-abdome). Só por fins estéticos, sem qualquer indicação por motivos de saúde.
Tenho certeza que esta menina será eternamente descontente com seu corpo.
Diversas vezes ao ano também vemos reportagens sobre mulheres jovens (na sua maioria) que morreram durante um procedimento estético mal feito. Não há mínimo controle governamental sobre as clínicas (vulgo, no meio médico, "bocas-de-porco") que fazem procedimentos estéticos invasivos. Nem sobre os médicos que nelas atuam.
Aproveito para finalizar com um trecho de um texto da Rosely Sayão, sobre o exagerado culto à beleza:

"Quem ganha com essa idéia de vida? O mercado, claro, que vende de tudo para dissimular os sinais da degradação do corpo: cosméticos de todos os tipos, técnicas de dermatologia, nutrição especializada, cirurgias plásticas, pílulas dos mais variados tipos etc. O conceito de saúde na velhice passou a ser associado à idéia de juventude. E o mais cruel: compramos também a idéia de que só envelhece quem quer, ou seja, só fica velho quem não investe pesadamente nesse aparato todo para aparentar jovialidade. Quem não se compromete com esse estilo está condenado ao ostracismo. Assim, a responsabilidade -melhor dizendo, a culpa- pelo envelhecimento, pela decadência física inevitável, pelos sinais do tempo é pessoal. Que ilusão!
Enquanto vivemos com essa ilusão, construímos uma sociedade que não aceita o velho, que não se modifica para reconhecer essa fase da vida. Nosso espaço público não acolhe os velhos; ao contrário, os exclui. No Brasil, não temos ainda o hábito de confiná-los em asilos. Aqui, eles têm sido confinados em suas próprias casas. E tem sido esse o conceito de velhice que temos transmitido às crianças e aos jovens. Não será bom parar para pensar no que isso pode dar?"

Não ficou e-s-p-e-t-a-c-u-l-a-r??

Comentários

  1. Jairo , a crônica do Carrasco na Vejinha desta semana fala muito sobre esse assunto .....filhos que pedem de tudo , inclusive cirurgias plásticas, e pais que dão .....
    vale a pena ler.

    Bia

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  2. Acho que pais de adolescentes que pedem este tipo de cirurgia deveriam pagar primeiro uma boa terapia para os filhos. Melhorar a auto estima é fundamental!

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